A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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domingo, 28 de dezembro de 2014

FELIZ ANO NOVO


Ano novo deve ser apenas um novo ano
daquele velho motivo que todos os anos
faz a gente pensar que este ano vai ser
feliz... Mas ainda é o velho tema...


Apenas sensação de permitir que sonhos
mortos enterrem os seus sonhos mortos,
enquanto a gente desperta antigas rosas
das que ainda permanecem adormecidas
nas páginas jamais abertas do jardim...

E nada de brincar de novos sofrimentos.
Ainda há muita amargura que necessita
de um funeral compatível com a liturgia
da cura pelos perdões não concedidos...

Então, depois de removida tanta pedra
desses túmulos todo ano reinventados,
a gente deseja apenas que o ano velho
acompanhe este ano novo no momento
de entrar pelas soleiras do coração...

Sementes de amor numa das mãos
e uma flor despojada dos espinhos
na outra mão...

Afonso Estebanez

BASTA...


basta
nada quero mais da morte
nada quero mais da dor ou sombras basta
meu coração é esplêndido como uma palavra

meu coração se tornou belo como o sol
que sai voa canta meu coração
é desde cedo um passarinho
e depois é o teu nome
teu nome se eleva todas as manhãs
esquenta o mundo e declina
solitário em meu coração
sol em meu coração.


Juan Gelman
(Poeta cubano)
Trad.:Antônio Miranda.


poema XXXIII

basta
no quiero más de muerte
no quiero más de dolor o sombras basta
mi corazón es espléndido como la palabra

mi corazón se ha vuelto bello como el sol
que sale vuela canta mi corazón
es de temprano un pajarito
y después es tu nombre

tu nombre sube todas las mañanas
calienta el mundo y se pone
solo en mi corazón
sol en mi corazón


 Juan Gelman

''Dá-me tua mão''


Dá-me a tua mão e dançaremos;
dá-me tua mão e me amarás.
Como única flor seremos,
Como uma flor e nada mais…

O mesmo verso cantaremos,
E ao mesmo passo bailarás.
Como uma espiga ondularemos,
Como uma espiga e nada mais.
Te chamas Rosa e eu Esperança,
mas teu nome esquecerás,
porque seremos uma dança
na colina e nada mais…


Gabriela Mistral
Escritora Chilena,
Premio Nobel de Literatura de 1945


''Dame la mano''


Dame la mano y danzaremos;
dame la mano y me amarás.
Como una sola flor seremos,
como una flor, y nada más...

El mismo verso cantaremos,
al mismo paso bailarás.
Como una espiga ondularemos,
como una espiga, y nada más.

Te llamas Rosa y yo Esperanza;
pero tu nombre olvidarás,
porque seremos una danza
en la colina y nada más...


Gabriela Mistral

CAPÍTULO 4 - O ETERNO RETORNO: PROVA MAIOR



Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser.
Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser.
Tudo se desfaz, tudo é refeito; eternamente constrói-se a mesma casa do ser.
Tudo se separa, tudo volta a se encontrar;
eternamente fiel a si mesmo permanece o anel do ser.
Em cada instante começa o ser; em torno de todo o "aqui " rola a bola "acolá ".
O meio está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade.



FRIEDRICH NIETZSCHE, ''Assim falou Zaratustra''
Do livro: Nietzsche: a vida como valor maior, Alfredo Naffah Neto,
FTD, São Paulo, 1996, p. 76-83

QUINTA MEDITAÇÃO


Amém e adeus
São palavras do princípio e do fim.
Amém para que tudo se consume um dia
Segundo foi prometido e está escrito.
Amém da manifestação concreta do mistério,
Amém para o recém nascido e para o recém morto,
Que tudo se inscreva no amém.


Adeus tanto ao partir como ao chegar,
Adeus para aceitar antecipadamente
Que Delícia e Prazer
Sejam anulados amanhã,
Adeus inscrito em letras de pastores no topo do berço,
Adeus ao universo que desde já se descola,
Adeus ao irreversível jasmim de amor,
Adeus a todos que nos precederam
E àqueles mesmos que virão depois,
Adeus e amém.

Adeus, palavra da intimidade da desolação,
Amém, palavra da intimidade do juramento e da promessa,
Amém para transformação do símbolo em realidade,
Amém e adeus da luz branca,
Amém do olhar funerário e ressurgido,
Amém e adeus, palavras do infinito íntimo
Que também se manifesta
Em núcleos de letras mínimas e de som,
Adeus dos sinos e da fonte oculta,
Adeus da asa do pássaro e da vela,
Adeus e amém.


Murilo Mendes
In Dispersos/ O Infinito Íntimo

'XII'


Dezembro acende as luzes
em ricos pinheiros de natal.
Mas é naquela árvore
solitária nas grotas
ou à beira da estrada
que se agregam bem-te-vis
e tagarelam maritacas.
Mangueira, Santa Bárbara,
Pata-de-vaca
- ao pássaro tanto faz:
folhagens são mimos anônimos.


Eu insisto em um Deus
que se projeta em tronco
e esparrama os braços
para acolher os seus.


Fernando Campanella
Poema da série 'Efemérides'

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

VIVER

 
Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!


Mario Quintana
In: Baú de espantos