A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

Seja bem-vindo. Hoje é
Deixe seu comentário, será muito bem-vindo, os poetas agradecem.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

EM VÃO


Estou a falar
aos ventos
a desfiar
palavras
vão esforço
de tecer
caminhos.
Estou
a gastar-me
inutilmente.
Quem me ouve?

Miriam Portela

[Arte: Cathy Delanssay]


Estou perdidamente emaranhada
em seus fios de delícias e doçuras.
Já não encontro o começo da meada,
não sei nem mesmo
se há uma ponta de saída,
ou se a loucura
vai num ritmo crescente
até subjugar a minha vida.
Não importa.
Quero seus nós de seda
cada vez mais cegos e apertados
a me costurar nas malhas e nos pêlos.
Enquanto você me amarra,
permanece atado
na própria trama redonda do novelo

Flora Figueiredo
Amor a Céu Aberto
Editora Nova Fronteira, 1992 - Rio de Janeiro, Brasil

''LEMBRANÇA''



Hoje a infância voltou com a chuva.
Rosto colado à vidraça, vi pequenos rios
arrastando folhas e formigas
rumo ao desconhecido de sempre.

Ricardo Augusto dos Anjos
de 'Agrolírica'


[Formatação da querida amiga Amália Catarina.]

DOS SILÊNCIOS


As vozes da multidão soam
Sussurram silêncios longos
Lembranças de um passado
Por onde se andasse alado
Imagens atravessam as paredes
Sorrisos disfarçados escondidos
Deleitando saudade no relógio
Na sobrevida das memórias.

O pensamento lastima-se
Nos hiatos da hora insistem
Nas lembranças das eras
Recordações de emoções passadas.

Acordam as manhãs do tempo
Dormidas nos corações dos homens
Onde existe um sopro de primavera
Que afaga os cabelos da aurora.

Vany Campos
In Poemas à Flor da Pele
Pag. 157

quinta-feira, 17 de abril de 2014

''LEMBRETE''


Autora: FLORA FIGUEIREDO

Não deixe portas entreabertas
Escancare-as
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades
E muita insensatez.


Flora Figueiredo
in: Calçada de Verão,
Editora Nova Fronteira
Rio de Janeiro, 1989

quarta-feira, 16 de abril de 2014

'Nocturno'

 

À noite vou por aí,
ociosamente.
Percorro um ritual lilás
feito de violetas de pedra
e traço cada pausa
no retorno da lua inicial.
Aqui a memória é lenta
como as angústias.
Muitas vezes vejo árvores
com frutos azuis,
ou animais em nudez perfeita
respirando o vento.
A escuridão é o subterfúgio
inesperado do coração
quando o olhar aquece
e o orvalho é de cetim.
Há máscaras de búzios e limos
na cara de quem passa.
Nas suas vozes ouço o itinerário
das manhãs siderais
e nasce nos meus passos
o rumo da via láctea.
Ninguém me conhece.
Venho do arco-íris
e trago nos dedos
o ângulo transparente da noite.

Graça Pires,
“Poemas Escolhidos''
1990-2011″ Ed. da Autora)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

'DA SOLIDÃO'



Prove a solidão que cura,

Aplauda a solidão que inventa,

Escute a solidão que diz:
-Aquela é pra ti, aquela não é

Sinta a solidão dos seres,
Por um instante,
Firme o olhar nas estrelas
E então, apregoe a solidão dos astros

Banhe os olhos nas águas solitárias
Da Baía perdida

Alguém poderá escrever que um dia te
Viu ali
Banhando-te sozinho na solidão dos outros.
Experimente então a solidão que afaga,
que minimiza a mágoa
e recupera os ouvidos do coração

Faça apenas da solidão que muda
Que transforma tua alma translúcida
em paciência e compreensão.

Mas não precipite as coisas
Não preencha a solidão com mapas

Fite a solidão que ilumina
E lá do fim do arco-íris observe a solidão a
navegar

A solidão que se esquece aos olhos da
viração.

Marcos André Carvalho Lins