A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Um poema de Nidia Horta

 



Preciso de voltar à idade
- do trigo loiro,
- das cigarras
-das borboletas
- de todo o fulgor
que só dura um voo...

Preciso de voltar
ao tempo da sensatez
quando não havia
- rugas no rosto
- escuros na tez...

Preciso de recordar o passado
- cerrar os olhos
- ver o mar azul
- ver as colunas de oiro
do mar do meu sul...

Preciso de escutar
- sussurros da memória
- vozes familiares
em sons de míticas saudades...

Erosão de imagens
que desfiguram a minha face
tão tranquila (outrora)...

Preciso de tempo
para o tempo que me resta...

O universo e a noite
são agora, apenas,
magia do pensamento...

Tornei-me idosa,
com mais chuva
e menos horizontes.

A consciência efémera,
a doçura do ensinamento
são moléculas perdidas,
algures, nos espaços...

Preciso, outrossim,
de desfalecer, por fim,
esquecida do tempo
em que não amei
nem vivi...

Nìdia Horta




sábado, 15 de junho de 2013

''QUE IMPORTAM, OS JARDINS, AS LINDAS FLORES ...''


Que importam, os jardins, as lindas flores,
As leves aves voando no céu?
Que importa o sol, a lua e as estrelas,
Se, de beleza, me enche o encanto teu?

Que importam rios, as fontes, os montes,
Tudo o que a terra, de graça, nos deu,
Os frutos doces, os peixes dos mares,
Se tu, inteira, és todo o enlevo meu?

Tu és para mim mais do que flor ou ave,
Mais do que o Sol, a Lua e as estrelas,
Bem mais que o belo azul do imenso céu,

Mais que em palavras, nestes versos, cabe,
Tanto mais digam, mais que sejam belas:
Tu és joia viva que a vida me deu!


Joaquim do Carmo
De ' Amanhecer pelo fim da tarde'
Lua de Marfim Editora

''À ESTRELA ''


Até à estrela que reluz
Há uma distância de trespasse.
Correu milênios sua luz
Para que enfim nos alcançasse

Talvez há muito já se fora
No longe azul extinto astro
Porém seus raios só agora
Ao nosso olhar mostram seu rastro.

A aura da estrela que morreu
No alto do céu se faz dar fé.
Era, e ninguém a percebeu,
Hoje que a vemos já não é.

Também assim a nossa dor
Na abissal noite se finda.
Porém a luz do extinto amor
Os nossos passos segue ainda.

Mihai Eminescu
in "Luar"

quarta-feira, 5 de junho de 2013

''ITINERÁRIO DAS URZES''





"...Não tenha rancor de mim por causa dessa pequena terra que cobre meu corpo."
(Parte final de suposta inscrição na tumba de Ciro, o Grande, rei da antiga Pérsia, em Pasárgada)


Quando eu me sentir triste,
triste de doer, da dor barroca,
ou imemorial, inominável,
sem fundo, sem alças,
triste das coisas cridas,
dos impérios que inventei
ou do que nem senti nascer -
triste da palavra em mortal ferida -
serás meu fiel retorno,
capelinha das urzes, à beira da estrada,
meu cavalo sem peias, minha jornada de ossos -
minha Ítaca, minha Pasárgada.

Fernando Campanella