Quero uma lição, a tua serve,
fonte, que sobre ti mesma cais, -
a das águas ousadas a quem cabe
esta celeste volta para a vida em terra.
Tanto quanto teu vário rumor
nada saberia me servir de exemplo;
ó tu, coluna leve do templo
que desmorona no próprio vigor.
Na tua queda, quanto que canta
cada esguicho que finda a sua dança.
Como sinto-me o aluno, o rival
de tua nuance incardinal!
Mas o que mais que teu canto a ti me empurra
é este instante de um silêncio em delírio
quando de noite, pelo teu fluído impulso
dás a volta por cima levantando um suspiro.
Como é bom pensar às vezes como tu,
irmão mais velho, ó meu corpo,
como é bom estar forte
da tua força,
sentir-te casca, caule, folha
e tudo o que podes tornar-te ainda,
tu, tão junto ao espírito.
Tu, tão franco, tão unido
em tua alegria manifesta
de ser esta arvore de gestos
que, num instante, desapressa
as marchas celestes
para aí pôr a sua vida.
Rainer Maria Rilke
In: Jardins
Tradução: Fernando Santoro
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