terça-feira, 31 de julho de 2012
''VIII''
Trânsfuga de agosto –
um prurido rouco –
tanto de mim
em ipês amarelos e roxos.
Fernando Campanella
Poema da série 'Efemérides"
(Atualizado)
'VER'
O dia. Arcos da manhã
em nuvem. Riscos de luz
como vidros arriados.
O claro. A praia armada
entre a sintaxe do verde.
Áreas do ar. Aves
navegando as lajes
do azul.
Antônio Carlos Secchin
segunda-feira, 23 de julho de 2012
"SONETO"
Desponta a estrela d’alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.
Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.
Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!
Porém minh’alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!
Fagundes Varela
In ‘Vozes da América’ (1864)
domingo, 15 de julho de 2012
''SE UMA ESTRELA CAíSSE ...''
(Paint By Gustav Klimt)
(July 14, 1862 – February 6, 1918)
Sob o céu estrelado
implorei não me deste
o teu beijo esperado,
tantas vezes sonhado.
E volvendo o risonho
rosto aos astros, disseste :
« Quando cai uma estrela
o que se pensa a vê-la
e com fervor se pede,
Deus infalivelmente
concede. »
Com um sorriso indulgente,
Respondi-te : « Criança ! »
E pensei no meu sonho
e na minha esperança.
E pensei, mas não disse :
« Se uma estrela caísse ... »
José Lannes
in Candeia – l.948.
(July 14, 1862 – February 6, 1918)
Sob o céu estrelado
implorei não me deste
o teu beijo esperado,
tantas vezes sonhado.
E volvendo o risonho
rosto aos astros, disseste :
« Quando cai uma estrela
o que se pensa a vê-la
e com fervor se pede,
Deus infalivelmente
concede. »
Com um sorriso indulgente,
Respondi-te : « Criança ! »
E pensei no meu sonho
e na minha esperança.
E pensei, mas não disse :
« Se uma estrela caísse ... »
José Lannes
in Candeia – l.948.
''MAR CALMO''
Tranquilo, o mar não canta nem ondeia.
O nauta, imerso noutro mar de mágoas,
Os olhos tristes e úmidos passeia
Pela tranquila quietação das águas.
A onda, que dorme quieta, não espuma;
O astro, que sonha plácido, não canta;
E em todo o vasto mar, em parte alguma
A mais pequena vaga se levanta.
Johann Wolfgang von Goethe
in Poesias Escolhidas
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Johann Wolfgang von Goethe
terça-feira, 10 de julho de 2012
''Vieram os pássaros''
Vieram os pássaros, como um poema,
em louca cavalgada por paredes de luz.
Eu ouvi um tumulto de asas.
Ou era a minha própria voz,
enrouquecida pela sede?
Não posso aquietar a boca,
porque me ardem nos pulsos
os escombros de nomes interditos
e o orvalho de meus olhos seca-me a garganta.
Os pássaros, eu sei, voltaram,
e trazem no bico as nascentes do sul.
Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005
segunda-feira, 9 de julho de 2012
''SONETO AO INVERNO''
Inverno, doce inverno das manhãs
Translúcidas, tardias e distantes
Propício ao sentimento das irmãs
E ao mistério da carne das amantes:
Quem és, que transfiguras as maçãs
Em iluminações dessemelhantes
E enlouqueces as rosas temporãs
Rosa-dos-ventos, rosa dos instantes?
Por que ruflaste as tremulantes asas
Alma do céu? o amor das coisas várias
Fez-te migrar – inverno sobre casas!
Anjo tutelar das luminárias
Preservador de santas e de estrelas...
Que importa a noite lúgubre escondê-las?
Londres, 1939
Vinícius de Moraes
''TRINTA E DOIS ANOS SEM VINÍCIUS DE MORAES''
''A Vida Vivida''
Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho
Senão uma grande angústia obscura em face da Angústia
Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da
noite imóvel
E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?
De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra
Que se destrói à presença das fortes claridades
Mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério
E cuja forma é prodigiosa treva informe?
Que destino é o meu senão o de assistir ao meu Destino
Rio que sou em busca do mar que me apavora
Alma que sou clamando o desfalecimento
Carne que sou no âmago inútil da prece?
O que é a mulher em mim senão o Túmulo
O branco marco da minha rota peregrina
Aquela em cujos abraços vou caminhando para a morte
Mas em cujos braços somente tenho vida?
O que é o meu Amor, ai de mim! senão a luz impossível
Senão a estrela parada num oceano de melancolia
O que me diz ele senão que é vã toda a palavra
Que não repousa no seio trágico do abismo?
O que é o meu Amor? senão o meu desejo iluminado
O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo
O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar
Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes
A quem repondo senão a ecos, a soluços, a lamentos
De vozes que morrem no fundo do meu prazer ou do meu tédio
Qual é o meu ideal senão fazer do céu poderoso a
Língua
Da nuvem a Palavra imortal cheia de segredo
E do fundo do inferno delirantemente proclamá-los
Em Poesia que se derrame como sol ou como chuva?
O que é o meu ideal senão o Supremo Impossível
Aquele que é, só ele, o meu cuidado e o meu anelo
O que é ele em mim senão o meu desejo de encontra-lo
E o encontrando, o meu medo de não o reconhecer?
O que sou eu senão ele, o Deus em sofrimento
o temor imperceptível na voz portentosa do vento
O bater invisível de um coração no descampado ...
que sou eu senão Eu Mesmo em face de mim?
Vinícius de Moraes
(Rio de Janeiro, 19 /10/1913 — Rio de Janeiro, 9/07/1980)
sexta-feira, 6 de julho de 2012
'AGORA'
Se tens um elogio a proferir,
é tempo agora.
Não aguardes que o vento da morte
desvaneça da areia da vida
o nome que o merece.
Se há um agravo pungente a perdoar,
é tempo, é hora.
O mais fundo rancor não resiste
a um apelo de braços abertos.
Helena Kolody
In: Sinfonia da vida
segunda-feira, 2 de julho de 2012
'IDEAL'
Preciso semear
em todos os horizontes
brancas paisagens de aves
. . . sendeiro luz aos humanos.
Preciso ver germinar
. . . lá, muito lá,
beijos se encontrando,
desertos sussurrando . . .
preciso ver florescer
nessas vastidões submissas
pensamentos em largos vôos. . .
Desejo então,
nessas nesses raras,
absorver perfeições de céus
. . . ódios sorrindo aos perdões
. . . braços recolhendo ausências
. . . silêncios desenhando canções.
Alvina Tzovenos
In: Buscas de Infinitos
'AO SABOR DOS VENTOS'
Entre ventos de folhas,
ontem,
. . . remansos recados
bailaram cansados.
Entre ventos de folhas,
hoje,
. . . anoiteci cantando,
Horizontes madurando.
Entre ventos de folhas,
amanhã,
. . . amarei saudades,
adocicadas teimosas.
Porque. . .
tua luz,
. . . caricia de brisa sorriso
. . . mares de ondas revoltas,
beijará minh’alma
sempre, sempre,
mesmo AO SABOR DOS VENTOS!
Alvina Tzovenos
In: Buscas de Infinitos
João Guimarães Rosa
Todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!... O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, E ainda mais alegre no meio da tristeza...
João Guimarães Rosa
Grande Serão Veredas
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