quinta-feira, 14 de abril de 2016
Abismo
Nada prende o passageiro
e seu abismo de espelhos
onde reflete o destino
do tempo
Nada esconde o passageiro
e sua cabeça de estrelas
onde guarda bagagens
e vento
Nada espera o passageiro
no seu caminho de espanto
onde encontra a perdição
e o pranto
Nada perde o passageiro
com sua coragem sem bolso
onde enfrenta paredes
e fogo
Nada parte o passageiro
com sua arte de encontros
onde inaugura cidades
e sonho
Nei Dúclos,
em "No meio da rua".
Porto Alegre RS: L&PM Editora, 1979.
quarta-feira, 13 de abril de 2016
As elegias
É meio dia em minha
vida,
meu sonho
meu sol,
minha dança alucinada
no horto.
Para quem fui,
gotas ficaram pendentes
nas espigas.
Para quem sou,
canto humilde e ave
partida.
É meio dia em minha
vida,
este relógio de hastes
singulares e plurais
ceifando o tempo,
trazendo à luz
banquetes fartos e limpos
- irreais
Eulália Maria Radtke,
em "O sermão das sete palavras". Florianópolis SC: FCC Edições; Brasília: Thesaurus, 1985.
Vaso de flores
O som do vento
faz dançar a chama da vela.
O balé da chama
aquece as flores no vaso,
flores que ontem me deste.
Bruxuleia vermelho clarão
e o vermelho à sombra adere.
O vento gira, gira e gira
vibrando a chama da vela
que dança, ao giro do vento,
obsessiva, hipnótica dança.
Deitadas ao acaso, enrubescem
as flores no vaso.
Lá fora, a música do vento
adere ao latido do cão.
Fausto Rodrigues Valle,
em "A fonte do sal". Goiânia GO: Zamenhoff Editores, 1988.
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