segunda-feira, 6 de agosto de 2007
"Soneto do Efêmero"
Sangram os mulungus no ermo encantado
frágeis flores de brasa. O canto insone
- pobre pássaro rouco no ar crispado –
voa da concha azul do gramofone.
Sobre a face das almas desce o cone
de sombras, antes que, no ilimitado
reino interdito, a vida se abandone
à lógica do tempo. E lado a lado
o homem e as coisas: a arca subjetiva
1. onde se funde o dúplice lamento,
2. onde tudo ao mudável se reduz
e os ontens e amanhãs, matéria viva
dos seres, desintegram-se no vento
como as almas, o canto, os mulungus.
Waldemar Lopes
in "Sonetos do Tempo Perdido"
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