quarta-feira, 14 de agosto de 2013
De José Tolentino Mendonça
'' Falta, talvez, (re)descobrir o caminho marítimo para o porto secreto de cada coração.''
A vida hoje afastou-nos da natureza: as paisagens urbanas, com as suas florestas de betão, encerram a vida entre paredes eficazes, muito cómodas, é certo, mas o ar que respiramos por alguma razão se chama “ar condicionado”. O que acredito é que precisamos de amplitude, de campos vastos a perder de vista, de viagens mais profundas que as da rotina. Precisamos perceber o silêncio das coisas, cúmplice do silêncio da nossa alma. Precisamos da liberdade leve dessas horas inapreensíveis que passamos junto ao mar. Há um poeta que diz: “Deus anda à beira d’água”. Não me admiro nada. A imensidão, o nome límpido, a alegria azul do mar são lugares onde Deus deixou o seu toque. Os caminhos marítimos para os outros continentes estão descobertos. Falta, talvez, (re)descobrir o caminho marítimo para o porto secreto de cada coração.
José Tolentino Mendonça
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Um comentário:
«O perfume é uma expressão de consolação, onde a
vida se celebra. É uma outra forma de júbilo. É um
louvor sem palavras, uma melodia intensíssima que
ouvimos na transparência, sem recorrer à audição.»
José Tolentino Mendonça, in A Mística do Instante
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