A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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terça-feira, 14 de abril de 2009

'M A R'



Há o Mar de Deus, e o Mar dos homens.
O Mar de Deus é o Mar das grandes águas
madrugais em perpétuo instante de gênese.
É o ar de frescor enorme, perenemente renascente e inesperado.
É o plasma fluído em que Deus mergulha ainda
as mãos potentes para modelar as formas virginais.
E é também o Mar milenário, abismal, antigo,
coetâneo das estrelas, batendo em praias espectrais
e enchendo de um grito fundo o côncavo das idades.
O Mar, símbolo do infinito e absoluto mistério.
O Mar dos homens é o Mar das proas inumeráveis.
Dos ancestrais barcos fenícios, das côncavas
naus helênicas, das galeras romanas, das caravelas
descobridoras, dos veleiros alígeros, das jangadas
audazes, dos transatlânticos de negro e potente
vulto rompendo serenos a convulsa massa líquida.
É o Mar que se humaniza em angras suaves, e
em largos e claros golfos, a cuja beira nasceram as
cidades insignes.
Ou a cuja carícia longa se entregam as aldeias
humílimas de pescadores.
É o Mar épico de Ulisses e do Gama, dos
vikings e dos piratas, dos caçadores de baleias e focas.
E é o mar lírico das enseadas adormecidas ao
luar pelas grandes noites de silêncio e sonho.
O Mar de Deus é o limbo em fusão plena,
pronto a escorrer na fôrma das realidades surpreendentes.
É a virgindade e a vertigem, é o Mar eternamente
Primevo, é o Mar sempre solidão e abismo,
o Mar espelhando Deus.
O Mar dos homens é o Mar das proas inumeráveis.
O Mar coalhado de transatlânticos e veleiros,
que levam ouro e trigo, e levam de um cais para
outro cais longínquo os homens palpitantes de desejo
e de ambição, ou de amargor e desalento.
É o Mar que aprendeu a cantar humanamente
com os homens, e a sonhar, e a sofrer, e a lutar, e a
amar humanamente . . .
Há o Mar de Deus, e o Mar dos homens. E
há o o Mar dos Poetas, que é, a um só tempo, o Mar
dos homens e o de Deus . . .


Tasso Da Silveira
In: Poemas De Antes

Um comentário:

Sonia Schmorantz disse...

Eu amo o mar, e isso se evidencia em tudo que faço, e este poema também é maravilhoso.
beijo e boa semana