A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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terça-feira, 30 de abril de 2013

''ANIVERSÁRIO''






Que a felicidade e a poesia sejam plenas neste novo ano de vida que inicias!
Deixo meu abraço e um poema-presente:


o brinde
da vida
aflora em festa

já borbulha
na borda
da manhã que começa

tim-tim, minha carne:
reacorda!

tim-tim, minha alma:
fica ébria!

Adriano Wintter
28/04/20013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

''Ser, parecer''


Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida

Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos

Mia Couto

[Photography by Cindy Grundsten]

''A OUTRA VOZ''



Presente em tudo e sempre oculto, serpente
verde e imóvel entre a folhagem, imagem

que não se vê nem ouve-se mas sente-se
perpassar todas as formas que armam

nosso breve arco riscado à giz de nuvem
sobre a impalpável escuridão do mundo

Enigma, da superfície ao fundo, vulto
transparente atravessando o véu do tempo,

reunindo, em sua única voz todas as vozes
do vento, céu vazio, rio sem foz e nascimento,

círculo invisível em volta de seu próprio
mistério – eterno, terreno, intocável, aéreo,

o silêncio, Deus da poesia, diz mais um dia

Antônio Moura

*Antônio Moura nasceu em Belém do Pará, em 1964. Publicou, em 1996, o livro "Dez", selecionado pela Universidade de Madri - Departamento de Filologia, para integrar a antologia internacional de poesia e crítica "Serta", reunindo poetas de línguas ibero-românicas, entre eles o poeta, tradutor e crítico literário Haroldo de Campos.[...]

domingo, 21 de abril de 2013

"Para minha filha"



[...]
Porém, quando eu me for, filha adorada,
esquece a dor, que por ventura te visite, e pensa
que desta minha vida descompensada
tu foste a glória e foste a recompensa!

Quando chegaste ao meu caminho tão sombrio,
teu raio de sol que tudo aclara ...
Por quem eu não temi o céu vazio,
por quem eu não maldisse a estranha sorte.

Que foste a estrela e foste a flor mais pura
que eu vi desabrochar sob o meu teto;
que, linda me tornaste a desventura
e graças deste à cruz do meu afeto!

Ide Schlönbach Blumenschein
in Lampião de Gás

[Modificado, mantida as partes principais]

"O verbo"




 

“Quod non mortalia pectora coges, auri sacra fames!”
Virgílio (Eneida, 3. 56-57)*


Esfera azul, jóia imensa,
solitária Terra-Mar,
até quando irás girar?
Um verme voraz te permeia
e a febre que desencadeia
está por te devorar.

Circula nas veias do homem,
mina-lhe os campos da paz.
O verbo vil da avareza
cria esse verme voraz.

Quem poderá salvar-nos
desse mal que nos infesta?
Ah, ânsia de ter e mais ter -
febre funesta -
que apenas no homem
se manifesta!...

Sérgio Sersank
de "Estado de Espírito"
 

* Execrável fome de ouro, a que desgraças conduzes os peitos mortais!

[Ilustração retirada do Google Imagens]

sábado, 20 de abril de 2013

"Entre as árvores"





 

Aqui eu sinto a Vida em ímpetos sonoros
devassando-me a luz de seus grandes arcanos
e esta seiva febril me infiltra pelos poros
o sangue matinal de meus primeiros anos.

Fascina-me o verdor primaveril das plantas;
não sei que magnetismo oculto as ervas têm,
que eu julgo, ó Natureza, em tuas pomas santas
beber tragos de luz e néctares do Bem.
[...]
Num turbilhão sonoro, as aves de mil cores
enchem a imensidão de límpidas risadas,
enquanto Flora anseia em convulsões de flores
na nítida beleza azul das alvoradas.
[...]
Como um cactus ao sol, minha alma desabrocha,
e os perfumes do canto entorno, afrouxo, no ar...
Depois, escuto o vento, e fito a árida rocha
e as aves sobre mim que passam a cantar.

O azul do espaço desce em gotas cintilantes
o seio a fecundar das trêmulas boninas,
e, numa inundação de vagas de brilhantes,
a luz serena banha as longínquas campinas.
[...]
Na natureza. a alma harmônica das coisas,
complexa, se derrama em formas multicolores,
ora na robustez das árvores frondosas,
ora na muda voz colorida das flores.

Em teu seio, é Floresta, onde o Belo descansa,
ao rebentar da Vida a torrente sonora,
ouço dentro de mim o canto da Esperança,
como um clarim vibrante ao despontar da aurora.

Augusto de Lima
in Poesias (Excertos escolhidos por mim)
(1859-1934)

domingo, 7 de abril de 2013

''Há oásis''


nos desertos
procuram-se oásis

ficam por lá as marcas
de viajantes…
… e de camelos

há vidas desertas
pés escaldados sonhando oásis

há vidas,
oásis em alguns desertos

… há viajantes

Joaquim do Carmo (a publicar)
© (direitos reservados)

''Dia-a-dia''


os dias são sempre depois dos dias
e, entre eles, as noites, os sonhos, o acordar!
e a esperança!
e o acreditar que amanhã também vai ser dia!
e a vida…

… que não pare em qualquer beco
sem saída!

a vida,
os dias,
as noites,
os sonhos...

... os dias, cada dia, ao acordar!

Joaquim do Carmo (a publicar)
© (direitos reservados)

''Duas palavras''


Longe…
palavra que os lábios
do coração
gritam…!

Perto…
o paradoxo distância
na vida
vivida…!

Joaquim do Carmo (a publicar)
© (direitos reservados)

''Ecos'




De mim inseparável
Em momentos de verdade,
De paragens que renovam o tempo do “eu”,
Em mágicas viagens
A recônditos espaços do universo,
Que alongam os segundos do hoje
Ou se propagam,
Quais ecos de amanhãs talvez já vividos,
Fonte inesgotável de energia e vivacidade,
Íntimo da relação entre mim e eu-mesmo,
Tão íntima quanto aberta ao outro,
Na partilha de emoções…

Tu, silêncio, falas de mim, por mim, connosco,
Em cada poema-feito-grito-tempo-vida!

Como dizes meu sentir…
Onde calas meus segredos…
Quando cantas meus lamentos…

A ti, poesia...
… pressinto a soletrar meus silêncios!

Joaquim do Carmo (a publicar)
© (direitos reservados)

''(Da) Insignificância''


dias que se sucedem
espaços vazios
saudade

e… tu, aí, o que fazes?

esperas juntar as pontas, decerto…
e o universo torna-se-te
pe que no (como se fosse possível)
só … a mão

… a minha! … ou a tua?

afinal, que importa? são dias que não temos, nem te temos, nem te demos… perdemos!?

perdemos sempre, mesmo se ganhamos!?…

Joaquim do Carmo (a publicar)
© (direitos reservados)

''Feliz é o dia''


Feliz é o dia
Que amanhece de bem com as estrelas!

Vem de braço dado com a lua,
Madrugada fora,
Dar boas vindas à estrela maior!
Traz na bagagem sonhos,
Anseios, projectos,
Quiçá vidas se gerando!

Promete sorrisos infindos
E, receando cuidados, canseiras ou dores
Avança, corajoso, o passo decidido!
Beija cada instante, apaixonado,
Da vida respirando-se, encantando-se…

Feliz é o dia
Que quase no fim, quase recomeço,
De volta ao reino dos sonhos
Cansado, anoitece mas…
… sempre amanhecendo!

Feliz é o dia, inteiro!...

Joaquim do Carmo (a publicar)
© (direitos reservados)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

''Solidão''


Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!

Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.

És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sente...
Que plenitude de solidão, mar solitário!


Juan Ramón Jiménez,
in "Diario de Un Poeta Reciencasado"

''INSTANTE''



Sobressaltado, tento soletrar,
a alma transida, e coração sem ar,
a mensagem do pequenino pássaro
que entra pela janela, a me espiar:

ó punhado de infância, tão certeiro
címbalo que me ilumina, alegria
célere e dançarina, como a graça
que chega sem aviso - e depois passa.


Hélio Pellegrino
In Minérios Domados

-Eduardo Carrnza -





De tudo aquilo restou-me um esquecimento
como um perfume transparente e vago.
E assim posso dizer que o respiro
como a um perfume.

De tudo aquilo restou-me um vazio
como um verso, de súbito, esquecido.
E assim talvez de repente o recorde
como a uns versos.

De tudo aquilo restou-me uma lua
secreta, lentamente evaporada.
E assim é possível que uma tarde volte
como a lua.

De tudo aquilo restaram-me sonhos,
sonhos, sonhos, que o tempo esfuma
E já não sei se aquilo foi sequer
como os sonhos.


Eduardo Carranza
In: Antologia Poética

'TEMPO DE ESQUECER'


Sabes que sou como um rio abandonado
no sedento leito do esquecimento,
e a tua vã lembrança tão unido
como a água ao seu céu refletido;


Sabes que sou como o tempo desfolhado
na mão final do que foi perdido
e, como um horizonte proibido,
me envolves o sonho vigilante;


Sabes que sou como o ar, destinado
ao voo de tuas aves, som ferido
surdidor rouxinol e enamorado:


Sobre este coração crepuscular
e por turvas marés assaltado,
tornas-te nuvem voando para o esquecimento.


Eduardo Carranza
In: Antologia Poética