A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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Deixe seu comentário, será muito bem-vindo, os poetas agradecem.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fernando Campanella

(Foto by Fernanado Campanella)

há algo de óbvio nas flores -
eu o admito, mas reincido -
a beleza requer exercício

(Fernando Campanella)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

'O UNIVERSO E O VERSO'


O mar azul me faz sempre pensar
E o pensamento faz-me mais discreto.
O mar é nada, mas é sempre mar,
Se comparado ao universo reto.

Meu pensamento vai bem mais distante
Que a distância do cosmos conhecida.
E sempre foi assim, desde eu infante,
Como será assim por toda a vida.

A diferença está pelos bilhões
Dos anos que o universo durará.
Meus pensamentos corre aos borbotões
Mais logo pelo tempo morrerá.

Quanta ironia existe no Universo
Que é maior e menor de que meu verso.

02/01/2010.

Ives Gandra Martin*

*Acadêmico das: Academia Paulista de Letras, Academia Paulista de Letras Jurídicas, Academia Brasileira de Letras Jurídicas, Academia Internacional de Cultura Portuguesa, Academia Matogossense de Letras, Academia Cristã de Letras, Academia de Letras da Faculdade de Direito da Usp.

domingo, 17 de outubro de 2010

RARA TEXTURA

Solidão e silêncio
permitem o encontro
que espelha,
no chão do meu rosto,
o Tempo,
o lamento das perdas,
o afago das mãos
que amarram,
presente e passado
em único cesto.

Solidão e silêncio
afligem o vento
que enreda
o vão do meu corpo.

O vento, o alento dos versos,
a alvorada das horas:
presente e futuro
em perene segundo texto.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ESCONDE – ESCONDE


No azul de verão
sol e nuvem, distraídos,
brincam de esconder.


Delores Pires
In: Vôo

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

PASSEIO DO OLHAR

Pouso meu olhar sobre teu rosto
como a mirar safiras outras,
que buscam melhor conhecer-me
para maior sabor deliciar.

Pouso meu olhar sobre teu corpo
como a trafegar estradas neutras,
que buscam melhor conduzir-me
para maior ardor propiciar.

Pouso meu olhar sobre teu corpo
como a festejar caravelas aflitas,
que buscam melhor atrair-me
para maior Atlântico navegar.

Pouso meu olhar sobre teu corpo
como a espargir letras benditas,
que buscam melhor distrair-me
para maior alfabeto cantar.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

POEMA PARA A EXORCISTA

A minha vida aparece sem condão e
monótona
aos que me vêem
no trabalho árduo da oficina
em manhãs apuradas.
A verdade é muito distinta.
Cada noite eu saio e discuto
contra um espírito malévolo
que, se valendo de
máscaras - cão, grilo,
nuvem, chuva, vagabundo,
ladrão - trata de
se infiltrar na cidade
para estragar a vida humana
semeando
a discórdia.
Apesar dos seus disfarces
sempre a descubro
e a espanto.
Nunca conseguiu enganar-me
nem vencer-me.
Graças a mim, nesta cidade
ainda é possível
a felicidade.
Mas os combates nocturnos
deixam-me exausta e ferida.
E para compensar a minha
guerra contra o inimigo,
peço uns restos
de afecto e de amizade.


Nova Iorque
novembro de 2001


Mario Vargas Llosa
Tradução de Pedro Calouste


O escritor peruano Mario Vargas Llosa foi o vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2010. O prêmio foi anunciado nesta quinta-feira na sede da Academia Sueca, em Estocolmo.
Nascido em 1936, o novelista e ensaista é considerado um dos maiores nomes da literatura em língua espanhola. Entre suas principais obras estão “A Casa Verde”, “Lituma nos Andes” e “A Cidade e os Cachorros”.
Ele já foi condecorado com o Prémio Cervantes em 1994 e o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras Espanha em 1986, entre outros prêmios, e é membro da Real Academia Española desde 1994.(Notícia extraída do blog 'Substantivo Plural'.)

Após o anúncio, o secretário permanente do Nobel, Peter Englund, qualificou o peruano como "um contador de histórias divinamente talentoso", cujos livros conseguem tocar os leitores. "Ele é um dos grandes escritores do mundo de fala espanhola", constatou.
Citado por agências de notícias internacionais, Englund disse que Vargas Llosa estava em Nova York nesta quinta-feira e foi informado por telefone. Ele está lecionando neste semestre na Universidade Princeton, em New Jersey. "Ele ficou muito, muito feliz", contou Englund. "E muito tocado."
Ao pronunciar-se sobre o prêmio, o autor peruano declarou: "É um reconhecimento à língua em que escrevo, a língua espanhola, e à literatura latino-americana. A verdade é que não esperava, foi uma surpresa total, uma surpresa muito agradável, claro", declarou. (Ricardo Gozzi)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

VÃ LAVRAR


Este estranho, permanente,
relacionar-se solitário
com as palavras todas:
rotas, avessas, devassas,
rudes, covardes, doces,
ardentes, ousadas.

Um sempre puro escarcéu
sabendo mil vezes a mel,
e mais do que tantas a fel.

Este perene perseguir o Dizer,
tantas vezes inutilmente,
tantas vezes sabido tolo tentar,
tanto divagar sem verbo Querer.

Este submeter-se à tarefa
de costurar redes à noite, na calmaria,
retendo o cio da alma,
driblando nortes de bússolas.

Enquanto cardumes de espias,
aguardam a hora da ventania:
para devorá-las, aviltá-las,
tingi-las de sangue:
espalmar a falácia do ideal bem-querer.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"