A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

Seja bem-vindo. Hoje é
Deixe seu comentário, será muito bem-vindo, os poetas agradecem.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Ano Novo Cristão



A todos amigos e visitantes do blogger,
desejo um ANO NOVO pleno de alegrias,
muita Paz, Saúde e Realizações.
Feliz, Ano Novo Cristão, de 2.010!

Maria Madalena

My Dead


“Only the dead don’t die”

Only they are left me, they are faithful still
whom death’s sharpest knife can no longer kill.

At the turn of the highway, at the close of day
they silently surround me, they quietly go my way.

A true pact is ours, a tie time cannot dissever.
Only what I have lost is what I possess forever.

Rachel Bluwstein
(Russia 1.890,Tel Aviv in 1.931)


‘Só os mortos não morrem’

Só eles a mim me restam, são tranquilos e leais
os que a morte não pode matar mais com seus punhais.

Ao declinar da estrada, no final do dia
em silêncio se acercam, em sossego seguem minha via.

Verdadeiro pacto é o nosso, nó que o tempo não desmente.
Só aquilo que perdi é meu eternamente.

Rahel Bluwstei, 1890 – 1931.
Tradução de Nuno Guerreiro Josué

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"Acompanhamento Lírico"



Desceu a nuvem. E de vale em vale
a manhã ficou pálida suspensa
Árvores lama fronte de quem pensa
vestem de branco um branco glacial
Como flecha de lume no vitral
também minha alma que brilhou intensa
novamente afogou sua presença
no fundo de uma túnica irreal
E levo-a
pelo mar fora pelo mar da névoa
sob o silêncio úmido profundo
em cujas mãos de lágrimas deponho
o mutilado corpo do teu sonho
corpo sem asas de voar no mundo


Luís Veiga Leitão
(Portugal-27 de Maio de 1912 —Brasil-9 de Outubro de 1987),

domingo, 27 de dezembro de 2009

"Intervalo"



Às vezes,
Todas as dores de uma vida inteira
Gritam...

Às vezes,
Nas mãos, os gestos de perdão
Petrificam...

Às vezes,
As canções dos anjos
Emudecem...

Às vezes,
Os silêncios , numa praia derradeira
Desaguam...

Às vezes...
Só às vezes...


Vera Muniz
(Queen of Hearts)

sábado, 19 de dezembro de 2009

A punto de un viaje en coche



Las ventanas reflejan
el fuego de poniente
y flota una luz gris
que ha venido del mar.
En mí quiere quedarse
el día, que se muere,
como si yo, al mirarle,
lo pudiera salvar.
Y quién hay que me mire
y que pueda salvarme.
La luz se ha vuelto negra
y se ha borrado el mar.


Francisco Brines
(España-1932)

'O destino não é um lugar'



O caminho foi longo e houve névoa.
Porém, houve o espaço. Mas agora
adensou-se a névoa até ao ponto
de ser o espaço o muro que já roço.
Nele me deterei e, ao voltar
os olhos para trás, a mesma névoa
far-me-á tentar de novo o mesmo muro
e, se eu dirigir o olhar ao céu
para ali me salvar, a negra névoa
irá cegar-me os olhos, e assim será
isto a que chamaste sono eterno.


Francisco Brines
Trad.:José Bento
(Poeta español nacido en Oliva, Valencia en 1932)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Guarda-Chuva



Meses e meses recolhida e murcha,
sai de casa, liberta-se da estufa,
a flor guardada (o guarda-chuva). Agora,
cresce na mão pluvial, cresce. Na rua,
sustento o caule de uma grande rosa
negra, que se abre sobre mim na chuva.


Mauro Mota
(Pernambuco-1911-1984)

POEMAS DO VENTO



Gastar-se no tempo
diluir-se no vento
evolar-se no sonho
deixando
- haverá quem o colha? -
um resíduo...

Memória.

Levarei por onde ande
uma inquietação mais nada
impulso vital que extingo
dentro de um pouco de lama.

Tal que o vento que baila
fazendo seu corpo efêmero
com a poeira das estradas...


Menotti Del Picchia
(São Paulo- 1898-1988)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

AUSÊNCIAS



Chegará o dia de entrar
na casa
olhar as cadeiras,
e mesas

vazias,

Observar o mar do silêncio
que arruma a casa,

os ecos,

dos que deixaram
a casa.

Chegará o dia de ver
na casa
o espaço vazio
das janelas
o mato adentrando a porta...


E tudo.

Esta marcha de ausências,
o vazio
sílaba secreta
de certo norte
caberá na bússola de
dentro dos olhos.

Georgio Rios
(Bahia)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS



Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.

Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.


Wislawa Szymborska
Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves
(Polonia-1923)

Em sinal de luto



Conto, pelos dedos, o tempo de entardecer
cansaços. Um negativo de lembranças,
compulsivamente recortadas no coração,
transforma a brisa em rostos familiares.
Crava-se-me, na pele, um sangue-frio
de mortes solitárias e estremece-me
o corpo em sinal de luto. A noite cheira
a despojos de velhos monólogos.

Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003
(Portugal)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Outono



Aquela nuvem cinzenta, punha uma luz nevoenta no dia úmido e frio
No chão molhado da estrada, ficara, leve, marcada
a impressão dos teus passos....

Sentia que me invadia, da vida que se perdia
o mais mortal dos cansaços...
Como a árvore, na turva luz que se apaga, recolhe a seiva e dormita.
Assim minha alma cansada, já nem sequer era aflita;
nem esperava
Nem desejava...

Olhava...

Apenas viviam meus olhos tristes e lassos.
No chão molhado da estrada
ficara, leve, marcada
A impressão dos teus passos...


Francisco Bugalho
(Portugal 1905-1949)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009



No meu peito a ferida torna a abrir
quando as estrelas caem e se tornam parte do meu corpo
quando o silêncio cai abaixo dos passos dos homens.

Estas pedras afundando-se no tempo, até onde me
irão arrastar com elas?
O mar, o mar, quem o pode esgotar?
Vejo a cada madrugada mãos acenando ao vulto e ao
falcão
atado como estou à rocha que o sofrimento tornou minha,
vejo árvores respirando a serenidade opaca da morte
e os sorrisos - nunca inteiros - das estátuas.


Yorgos Seferis
Tradução:Tatiana Faia
in: Collected Poems (1922 - 1955)
Edmund Kelley e Philip Sherrard,Princeton University Press, 1971.
(Grécia-1900-1971)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009



Sofro
de não te ver,
de perder
os teus gestos
leves, lestos,
a tua fala
que o sorriso embala,
a tua alma
límpida, tão calma...

Sofro
de te perder.
durante dias que parecem meses,
durante meses que parecem anos...

Quem vem regar o meu jardim de enganos,
tratar das árvores de tenrinhos ramos?


Saúl Dias
In: Tarde Azul
(Portugal 1902-1983)

DEPOIS DO VENDAVAL



Obumbra-se a manhã ! O céu fechado
Desenrola-se em forma de sudário!
O meu pobre jardim desmoronado,
Quase se transformou num triste herbário!

Há em cada amaranto desbotado,
Uma desolação de campanário !
Como se houvesse por ali passado
O espetro de um tufão incendiário!

Num segundo o jardim se recompõe!
O sol desponta e sobre as plantas põe
Miríades de cores luminosas !

A primavera se renova enfim!
Como se Deus descesse em meu jardim,
Benzendo as flores e crismando as rosas! . . .


Miguel Jansen Filho
(Paraíba 1925/1994)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

La Vida es Sueño



A pedra
a pedra como o fogo
com suas resinas e ramas
a pedra como o fogo
é um sonho
de pálpebras abertas.

O sonho é quando
no veludo íntimo da noite
fogo e pedra se sonham:
— as pálpebras cerradas.

Hélio Pellegrino
(1924 -1988- Minas Gerais)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

DESCOMPASSOS



Baila sob a luz das estrelas.
Desata o fio de teus sapatos.
Deixa que o sol te beije de esperanças e risos.
Faze de tua vida
um hino ao beijar os olhos da manhã
uma harpa ao por os pés no ventre da noite
um rodopio de azuis, de conchas e de búzios.


Deixa que o vento brinque com teus pés
a chuva te beije ate se cansar
as flores e os verdes e os caracóis
enfeitem teus cabelos de verões.


Corre atrás da vida com ternura de criança
e canções plenas de paz
e com risos de palhaços
porque tudo, todos nos
brincamos de viver bem
sempre, sempre
num carrossel
no circo da vida.


Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

'The Road Not Taken'



TWO roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


Robert Frost
(1874–1963)
Mountain Interval- 1920.